quarta-feira, 25 de maio de 2011

Diferenças....

Eu tive uma colega de trabalho que quebrava todos os protocolos de convivência imagináveis, ela era sarrista, divertida, fanha, estridente, e costumava não deixar ninguém quieto.
Minha tolerância com as diferenças alheias eram eficazes até certo ponto, mas ela esgotava meus esforços algumas vezes, sabe aqueles dias que a gente tá silenciosa de poucas palavras, era só ela chegar que atiçava um pouco cada um na sala, eu dava algumas desculpas de dor de cabeça, sono, mas nada abalava suas intenções.
Era o tipo de pessoa que contava sobre a rotina da própria vida com graça, falava do marido das filhas, da cor da casa, de sexo, da reforma e de tudo que era possível em curto espaço de tempo, muito perspicaz, antenada, tinha capacidade de falar e ao mesmo tempo prestar atenção na conversa alheia só para dar um piteco.
Em um ano de trabalho juntas nunca a vi triste, enjoada, dolorida, cabisbaixa, ao contrário, quanto mais passava o tempo mais intensa ela ficava. Na festa de confraternização no final de ano, passou a lista das pessoas que queriam participar da reunião e do amigo secreto, mas lógico que ela e somente ela não iria deixar as coisas tão tradicionais assim né? E como era de praxe ela sugeriu uma brincadeira diferente:
-Quem sabe a gente não faz o seguinte: - sorteia o amigo secreto, cada um terá o apelido de seu principal defeito ou da sua principal característica para a correspondência, e no dia da festa tem que vir se possível a caráter conforme o defeito ou característica  em questão, quem chamar pelo nome vai ganhar castigo, por exemplo: se fulano for preguiçoso é o carteiro do Chaves entenderam?
As pessoas a princípio não gostaram da idéia, sabe como é ninguém gosta que aponte seus defeitos publicamente, mas ela argumentou muito bem, ( me pergunto até hoje por quê não foi advogada?) falou no quanto esta oportunidade seria interessante para que cada um de nós realmente enxergasse a si mesmo como os outros nos viam.
Dai pensei o seguinte: verdade, tem isso dai, a gente se vê de um modo, e os outros de outro modo, incrível, mas talvez passamos uma imagem daquilo que não somos. É muito louco isso!!
Mediante  suas argumentações, timidamente alguns colegas foram aceitando a brincadeira, e claro alguns ficaram de fora. O tempo transcorreu e todos da lista foram apelidados, eu fiquei sabendo que era considerada por todos soberba, me achava muito segura de si, era uma professora que passava uma imagem de nariz empinado. Bem, realmente eu sempre fui meio perua sabe, mas não para confrontar ninguém, jamais, apenas porque gostava de ser assim, mesmo porque, passei muitos anos de minha vida sem trabalhar, sem condições de comprar roupas e sapatos, pois casei muito cedo com 16 anos, ganhei meu primeiro filho com 20 anos, primeiro criei meus filhos e depois tudo começou então eu vivi de doações, às vezes minhas mãe me comprava roupas, minha cunhada me dava sapatos e bolsas, então quando comecei a trabalhar fui sedenta para as lojas comprei sapatos, bolsas, roupas, e usei tudo como se fosse o último dia da minha vida, e até hoje sou assim, se compro algo novo uso quase imediatamente, não guardo absolutamente nada, costumo brincar que quando eu morrer tudo que for meu será dado usado rsrsrsrsrsrsr….é a minha vida profissional começou muito tarde, e com ela graças ao meu marido minha independência financeira também, porque ele sempre foi o grande provedor da casa, meu salário então passou a ser aquele que faria a diferença,vestimenta para mim e os filhos, e outras coisinhas mais.
Sei que nisso tudo me perdi, venho de um lugar em que as mulheres estão bem vestidas até para ir ao supermercado, sou de Porto Alegre-RS, mas por incrível que pareça existem pessoas que te olham por dentro, e vêem além desta casca camuflada que vestimos na sociedade, então eu decidi participar da brincadeira de coração, pois não havia maldade naquela minha amiga que honestamente me apontou esta característica, dificilmente alguém é sincero com você de forma tão sublime, que faça rir de si mesma, e mostrar para as pessoas que sim, que você é baixa, magra, desdentada, dentada ou sei lá o quê? E dai qual o problema?

Dia da festa, todos prontos e os amigos foram se revelando, ao comentar os próprios defeitos alguns se surpreendiam outros nem tanto, mas, todos unanimemente curtiram a brincadeira por terem a oportunidade de perceberem suas características. Eu tive que me vestir de D.Florinda com bobes e avental, o professor de história que havia me tirado disse que eu não me vestia como professora e sim como advogada, e que naquele dia ele queria me ver como Zefa, eu tirei um professor de matemática que ao meu ver transpirava testosterona, andava que nem Jhony Bravo, cheio de charme com as menininhas, então resolvi fazer um kit feminino para ele, dentro havia seringas com hormônios femininos estrógeno e progesterona, cueca de elefante, pompons e frufus, foi uma comédia, ele disse que usaria só daquela vez e que preferia ter aquela natureza macha mesmo.
Aquele ano ficou marcado na memória e me deixou uma grande lição: que podemos sim e devemos rir de nós mesmos invés de somente observar e comentar os defeitos dos outros, geralmente estamos muito cobertos deste verniz social que não atinamos o quanto somos capazes de cometer certos exageros, ou de ter características que também chamam atenção, mas o que importa na verdade é que somos peculiares, únicos, e que temos condições e ferramentas internas para nos reinventarmos quantas vezes julgar necessário, que podemos jogar fora hábitos e idéias que nos empesteiam, porque absorvemos o senso comum, e mesmo sem perceber conceituamos tudo, rotulamos, e adquirimos idéias preconcebidas que norteiam nossos atos.
Tente apontar seus próprios defeitos ou manias, difícil né? MAS
Prontamente sabemos o que os outros fazem e como fazem, diagnosticamos facilmente os erros alheios, esquecemos nossos erros do passado, julgamos com antecedência as pessoas e ainda damos conselhos milagrosos.
O ser humano tem esta capacidade, dai a real importância de vigiar a nós mesmos que como qualquer um tem seus devaneios.
Tento melhorar nestes quesitos, por isso dou risadas fabulosas das minhas gafes, levo na boa meus probleminhas de percurso e admito: sou humana, tenho muito a aprender. Não que eu queira mudar minha performance de perua, mas desejo melhorar minha capacidade de demonstrar que apesar disso sou do bem, pretendo que antes de me julgarem pela aparência percebam que tenho um coração, sentimentos, pensamentos e que provavelmente algo à acrescentar menos fútil do que as futilidades que gosto…difícil?
É, mas vale a pena, assim como vale a pena aceitar as pessoas como elas são.
Bjcas, no coração dos meus seguidores.
 E a você Rosania, meu muito obrigada, ano inesquecível.

Um comentário:

  1. Muito legal essa brincadeira. Sabemos que temos realmente uma enorme dificuldade de aceitar nosso lado estranho rsrsrs. Não gostamos de críticas, as vezes damos a impressão do que não somos. Talvez postura, risadas exageradas, caras amarradas. Cada um com seu diferencial. Essa brincadeira me lembra as dinâmicas em grupo de recursos humanos, cada revelação impressionante, uma vez participei de uma com meu departamento pessoal. Tinha uma gerente que tirava sarro, ria a toa, fazia umas brincadeirinhas que não suportava, acabavamos no confronto. Nessa dinâmica, eu tinha que ser autoritária, ser mal educada e prepotente, como ela era as vezes. Não deu outra, escolhi a fulana, quando comecei, peguei no ponto, ela chorou como criança, foi quando vimos que ela era frágil como uma criança e não tinha vocação para ser líder, por isso as risadas, as gracinhas...pura insegurança. Era assim o jeito dela, passamos a conviver melhor. Ela passou aceitar como éramos e nos a ela. Sempre vale a experiência. Muito bom texto Rose.

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